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Sexta, 11 Outubro 2024 01:12

Brasil e Chile mantiveram colaboração para eliminar opositores durante ditaduras, diz ex-ministro chileno

 Da esq. para a dir., no alto, Silvia Romano, Jorge Rubem Folena e Dário Salinas Figueiredo; embaixo, Marcos Patricio Barraza Gómez e Denise Assis Da esq. para a dir., no alto, Silvia Romano, Jorge Rubem Folena e Dário Salinas Figueiredo; embaixo, Marcos Patricio Barraza Gómez e Denise Assis

“Repressão coordenada” foi o termo usado pelo ex-ministro chileno do Desenvolvimento Social Marcos Patricio Barraza Gómez para explicar as práticas adotadas em parceria pelos governos do Brasil e do Chile durante suas ditaduras militares, que foram contemporâneas. No evento Os Estados Unidos e a Doutrina Monroe: dois séculos de intervenção política, militar e econômica na defesa dos seus interesses na América Latina, promovido pelo Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) nesta quinta-feira (10/10), ele afirmou que houve "colaboração entre os dois países para investigar, prender, torturar e fazer opositores desaparecerem". 

Gómez citou o envolvimento de agentes brasileiros em centros de tortura chilenos, como o Estádio Nacional, e destacou que essa aliança criminosa se estendeu a outros países da região, por meio da Operação Condor. Essa operação foi, em suas palavras, "um sangrento ponto de inflexão" e exemplo de como as ditaduras latino-americanas "redesenharam nocivamente o ideal de integração regional”, que deveria ser um projeto emancipatório, mas acabou transformado em um "relacionamento de terror e horror".

No encontro, que marca o IV Seminário Internacional da Comissão de Direito da Integração do IAB, a influência dos Estados Unidos nos golpes de Estado em países latinos também foi abordada. Na visão da professora de História da Universidade Federal Fluminense (UFF) Tatiana Poggi, o imperialismo estadunidense nas nações vizinhas se construiu por meio de diversas estratégias de domínio: “Foram acordos comerciais, empréstimos, dívidas, pressões políticas e diplomáticas, intervenções militares, apoio a golpes e ditaduras, entre outros investimentos”. 

Da esq. para a dir., Elian Araújo, Sydney Limeira Sanches e Tatiana Poggi

A professora pontuou que os EUA aprimoraram os propósitos na Doutrina Monroe, que nasceu em 1823 como uma política de defesa dos países americanos em relação à interferência europeia, e ao longo dos anos demarcaram a América Latina como uma esfera de influência própria. Poggi apontou a sofisticação dessa estratégia de domínio, que alcançou âmbito cultural com a difusão de uma visão estadunidense sobre o que seriam liberdade, democracia e progresso. “Os investimentos na exportação de cultura não vão eliminar em nada as práticas de coerção, presença militar e interesse econômico. O poder bruto e o poder brando se reforçam mutuamente”, completou.

Na abertura do evento, o presidente nacional do IAB, Sydney Limeira Sanches, comentou a importância de abordar os reflexos da Doutrina Monroe nos países do continente americano: “Todos os processos de independência que ocorreram durante esses últimos 200 anos foram certamente impactados pela política adotada pelos Estados Unidos. Essa doutrina nasce com um propósito, mas ele se modifica ao longo da aplicação de um processo de intervenção imperialista”. 

Presidente da Comissão de Direito da Integração do IAB, Elian Araújo sublinhou que o recorte pensado para o evento se refere aos impactos que a doutrina causou nos interesses e na realidade das nações sul-americanas. “A nossa ideia é que o debate gere reflexões que possam contribuir dentro do âmbito das políticas externas a nível de América Latina”, disse a advogada. 

Elian Araújo e Sérgio Sant’Anna

O encontro também teve a participação da ex-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade Denise Assis, da doutora em Ciência Política pela Universidade Nacional de Córdoba Silvina Romano e do professor investigador da Universidade Iberoamericana Dario Salinas Figueiredo. Elian Araújo, o vice-presidente da Comissão da Integração, Sérgio Sant’Anna, e o secretário-geral do IAB, Jorge Rubem Folena, fizeram a mediação dos painéis. 

Violação de soberania – Denise Assis ressaltou a influência estadunidense na política brasileira, especialmente durante o período da Guerra Fria. Ela explicou que, com a ascensão de Fidel Castro em Cuba e a organização das Ligas Camponesas no Brasil, os Estados Unidos passaram a ver o País como um possível foco de insurgência comunista. "A partir disso, eles mandaram para cá o programa Aliança para o Progresso – um projeto assistencialista que também serviu como canal para repassar verbas injetadas nas agências de publicidade”, explicou a palestrante, destacando que o dinheiro ajudou a financiar a conspiração que culminaria no golpe de 1964.

O aprimoramento e a renovação da Doutrina Monroe em modernas estratégias de dominação também foi destacado por Silvia Romano. Segundo a cientista política, os Estados Unidos adotaram, nas últimas décadas, a prática do lawfare: “Essa é uma estratégia para desestabilizar, por vias judiciais e midiáticas, os setores progressistas latinos”. O objetivo desse tipo de ataque, segundo Romano, é “obter acesso a mercados e recursos estratégicos dos países e anular a disputa político-ideológica junto a qualquer possibilidade de mudança”. 

Por outro lado, Dário Salinas Figueiredo argumentou que em menos de uma década não será mais possível falar em hegemonia estadunidense. De acordo com o professor, enquanto os EUA faziam intervenções militares no Oriente Médio, a China crescia e moldava uma nova configuração global. “Existem componentes que geram, atualmente, um desenho multipolar em termos de balanço de forças. Há uma disputa de liderança do ordenamento mundial onde não é possível dizer que existem derrotados e vencedores. Estamos vivendo um processo policêntrico do mundo contemporâneo”, afirmou ele.

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