O evento online foi aberto pelo presidente nacional do IAB, Sydney Sanches. “Este webinar está sendo realizado num momento muito oportuno, em que ocorre o processo de reconstrução política e econômica da América Latina, impactada pelos retrocessos civilizatórios e após o difícil momento enfrentado pela humanidade com a pandemia”. No encerramento, a presidente da Comissão de Direito da Integração, Elian Araújo, destacou “o vasto conhecimento e a vivência pessoal e acadêmica demonstrados por todos os expositores”.
No painel sobre Lawfare e as estratégias para desestabilização das democracias na América Latina, Miguel Calderón, ao comentar a fragilidade do regime de participação popular, falou da interferência dos EUA nos sistemas políticos da região: “As ações americanas de combate ao tráfico de drogas na América Latina, por exemplo, sempre foram uma forma de manter a presença militar dos EUA na região, que é a mais desigual do mundo, para garantir os seus interesses econômicos, inclusive dando apoio às ditaduras militares aqui instaladas”.
Do mesmo painel participou o ex-reitor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e ex-procurador da Fazenda Nacional Ricardo Lodi, que criticou o avanço das forças neoliberais. De acordo com o advogado, “antes do surgimento do neoliberalismo, há mais de 40 anos, com Ronald Reagan, nos EUA, e Margareth Thatcher, no Reino Unido, a América Latina tinha uma posição global à frente da Ásia que acabou sendo perdida, porque os países asiáticos tiveram maior capacidade de conter o apetite das suas elites do que os países latino-americanos”. Por isso, segundo ele, “os países asiáticos cresceram e os latino-americanos continuam enfrentando as mesmas e gravíssimas dificuldades”. O tema do painel foi debatido pelo secretário-geral do IAB, Jorge Rubem Folena, doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), que comentou a extrapolação do emprego da lei contra adversários políticos: “Os efeitos deletérios do lawfare praticado no Brasil pela Operação Lava Jato estão aí a olhos vistos”. A discussão foi moderada por Elian Araújo.
O pesquisador do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso) Carlos Eduardo Martins falou sobre A reorganização mundial na atual conjuntura geopolítica internacional. “A situação política em que nos encontramos no Brasil, de alienação da soberania promovida por este governo, também é uma realidade em outros países da América Latina, que igualmente cedem a interesses econômicos internacionais vinculados ao imperialismo dos países centrais”, afirmou. De acordo com Carlos Eduardo Martins, que também é professor associado do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (Irid) e do programa de Pós-graduação em Economia Política Internacional (Pepi) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), “o imperialismo é apoiado por seus sócios locais, que contribuem para a manutenção da dependência dos países da América Latina”.
Guerra comercial – O pesquisador e acadêmico também comentou a influência da disputa comercial entre os EUA e a China na reorganização do mundo pós-pandemia. “Enquanto a China usou a pressão do mercado para se expandir comercialmente, os EUA, no governo Trump, substituiu o neoliberalismo pelo imperialismo político, para submeter a autonomia do mercado mundial à força política do Estado norte-americano”, afirmou. Segundo ele, “com esse objetivo, Donald Trump iniciou uma guerra comercial contra a China, rompendo com as prerrogativas neoliberais e com acordos multilaterais, inclusive com a Organização Mundial do Comércio, a OMC”. A moderação do debate foi feita pelo advogado Sérgio Sant’Anna, doutor em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e presidente da Comissão de Direito Constitucional do IAB.
No painel América Latina e seu papel estratégico na geopolítica internacional, o coordenador da graduação em Relações Internacionais da UFF e doutor em História Política pela Uerj Fernando Almeida afirmou que “a geopolítica internacional tem sido marcada pela disputa pelo maior controle da economia mundial”. Ele informou que, em 1870, a Inglaterra dominava 16,4% da economia do planeta, sendo que, em 1973, a liderança era dos EUA, com o controle de 18,6%. Conforme os dados fornecidos, em 2010, os EUA continuavam à frente do ranking mundial, com 13.3%, mas com a China se aproximando, com 12,3%. A projeção é de que, em 2030, os chineses assumam a dianteira, com 18%, superando os americanos, que deverão ter 10,1% da economia mundial.
O assunto também foi analisado por Bolivar Meirelles, pós-doutor em História Política pela Uerj e general de Brigada cassado como 2º tenente no golpe de 1964. “O IAB vem se destacando nessa luta política hoje tão necessária para a proteção da democracia brasileira”, afirmou ele na abertura da sua explanação. “Fui cassado por prestar lealdade ao governo de João Goulart, o melhor que o País teve até hoje e que foi derrubado pelo golpe”, acrescentou. De acordo com Bolivar Meirelles, “o golpe teve os EUA na retaguarda, para satisfação dos interesses dos oligopólios nacionais e internacionais”. Na condição de debatedor, Joycemar Lima Tejo, membro do IAB, afirmou que “a América Latina tem todo o potencial necessário para ser um dos polos do novo mundo que seria marcado pelo fim das mazelas sociais”. O moderador do debate foi o advogado Antonio Walber Muniz, doutor em Integração na América Latina pela USP e membro do IAB.