A abertura do evento, sob o selo Saindo do Prelo, foi feita pelo 1º vice-presidente do IAB, Carlos Eduardo Machado, que ressaltou: “O Instituto vem prestando relevantes serviços na área jurídica, especialmente apresentando uma visão crítica em busca da melhoria da legislação. Nesses três anos de confusão e desatinos que temos vivido, o IAB tem assumido posição crítica ao caos que se instalou neste País, e que espero seja em breve revertido”.
Marcia Dinis explicou que o livro reúne textos publicados a partir de 2018 na coluna Além da Lei, do site da revista Cult. Os autores são o desembargador do TJSP Marcelo Semer, membro honorário do IAB; o juiz do TJRJ Rubens Casara, também membro honorário do IAB; a advogada Giane Alvares, mestre em Direito pela PUC/SP; a conselheira no Instituto Brasileiro de Advocacia Pública (Ibap) Marcia Semer, mestre e doutora em Direito do Estado pela USP; o ex-procurador geral do Estado de São Paulo Marcio Sotelo Felippe, pós-graduado em Filosofia e Teoria Geral do Direito, e o doutor em Filosofia e Teoria do Direito pela USP Patrick Mariano.
Espaço de reflexão – Marcelo Semer lembrou o primeiro livro lançado pelo grupo, Brasil em fúria, sobre o período do impeachment da ex-presidente Dilma Roussef. Ele chamou atenção para alguns temas que são abordados no segundo livro, Brasil despedaçado, como “o fato de estarmos vivendo essa realidade e continuarmos nela”; o projeto autoritário de Bolsonaro e Moro, em nome de um inimigo maior, que é a corrupção, “sem perceber que o autoritarismo é em si mesmo uma corrupção do sistema”; as revelações da Vaza Jato; o darwinismo social, em que “só os fortes sobrevivem e os fracos ficam pelo caminho, e tudo bem”. Sobre a possibilidade de um novo livro, ele disse: “Espero que possamos ter fôlego e que o País possa renascer, porque nos últimos anos não tivemos outra opção senão fazer críticas e lamentações”.
Ao iniciar sua fala, Rubens Casara reconheceu: “O IAB tem se mostrado um espaço de resistência e reflexão”. Sobre o livro, ele disse que, nos seus textos, procurou descrever “um pouco do caos em que fomos lançados”. Para ele, a situação atual do País tem origem “na tradição autoritária do Brasil, na crença no uso da força para resolver os problemas, na ode à ignorância e, ao mesmo tempo, no ódio ao conhecimento”. Ao lado disso, acrescentou, está “a incidência da racionalidade neoliberal, que trata absolutamente tudo e todos como objetos negociáveis, quando não descartáveis”. Para resumir a ideia da coletânea, o magistrado explicou que a obra “tenta produzir diagnósticos do tempo presente, mas não se contenta com isso; propõe caminhos numa direção emancipatória, libertária e radicalmente democrática”.
Giane Alvares complementou: “Este livro é fruto das nossas reflexões, das nossas angústias, que começaram a partir do impeachment da presidente Dilma”. Ela lembrou que, hoje, “muitos fatos brutais acontecem e uma semana depois ninguém mais fala sobre eles”. Para Marcia Semer, “essa desconstrução do Estado brasileiro tem sido muito violenta”. Mas, deixou uma ideia otimista: “Há estudos que dizem que o antídoto para esse tipo de situação nós vamos encontrar nos movimentos coletivos. A partir da retomada dos movimentos sociais coletivos teremos condições de repensar o Brasil”.
Para explicar “como chegamos ao ponto que chegamos”, Marcio Sotelo Felippe apontou o papel do Judiciário como “decisivo para que se preparasse o golpe e possibilitasse a eleição de um fascista clássico”. Segundo ele, “só conseguimos transformar a sociedade se tivermos o entendimento real e efetivo do que certas instituições representam na estrutura de dominação de classes”. Patrick Mariano ressaltou que os textos incluídos no livro são resultado de uma produção muito intensa de quatro anos. “Espero que voltemos a produzir, para dar continuidade à publicação de novos livros”, concluiu ele.