No debate, foi apontado que o Brasil tem obtido êxito diplomático na definição das pautas de sua presidência no Brics. Gustavo Westmann destacou que o País age com pragmatismo na defesa dos seis temas prioritários abraçados pela sua agenda. São eles: saúde, mudança do clima, reforma do sistema financeiro, inteligência artificial, aprimoramento institucional do Brics e o fortalecimento do multilateralismo. “Entre os objetivos do Brasil está criar parcerias para erradicar doenças negligenciadas, avançar na facilitação de comércio entre o bloco e defender uma governança inclusiva da IA, com a Organização das Nações Unidas (ONU) no centro”, sublinhou o palestrante.
Da esq. para a dir., Joelma Gonçalves Ribeiro, Sérgio Sant'Anna, Elian Araújo, Gustavo Westmann e Rita Cortez
Na abertura do evento, a presidente nacional do IAB, Rita Cortez, parabenizou o trabalho da Comissão de Direito da Integração, responsável pela promoção do evento, e afirmou que o grupo é um dos mais ativos da entidade. “Quem vem aos nossos eventos tem uma verdadeira aula sobre a história do Direito e da advocacia e eles têm um papel muito importante nisso”, afirmou a advogada.
O debate sobre a presidência brasileira no Brics é o centro do V Seminário Internacional da Comissão de Direito da Integração do IAB, que conta com a participação de especialistas na política internacional. Presidente do grupo, Elian Araújo destacou que o objetivo do encontro é democratizar o debate político: “É importante oportunizar a todos o diálogo e o conhecimento sobre o Brics e nossas relações internacionais”.
No segundo painel do evento foi debatida A importância do Brics e os desafios da geopolítica internacional, com palestras da professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Beatriz Bissio e da integrante do Instituto de América Latina da Academia de Ciências Russa Tatiana Vorotnikova. A mediação da primeira mesa foi conduzida por Elian Araújo e a segunda teve condução do membro do Conselho Superior do IAB Jorge Rubem Folena.
Beatriz Bissio e Jorge Rubem Folena
Os fatores de fortalecimento do Brics na América Latina foram tema da fala de Tatiana Vorotnikova, que apontou a grande influência econômica que a China exerce no cenário global e a experiência de cooperação regional latinoamericana. “Entre os principais objetivos do grupo está reforçar a governança mundial e promover a segurança alimentar e energética dos países membros”, destacou. Ao tratar sobre o papel do Brasil no Brics, ela reforçou que o País pretende promover soluções de problemas mundiais e ser um mediador entre os países membros. “No entanto, o principal interesse dos países latinoamericanos no grupo está nas oportunidades econômicas que o Brics pode oferecer”, completou.
Tatiana Vorotnikova
Em uma perspectiva histórica, Beatriz Bissio levantou a hipótese de que o surgimento do Brics tenha tido seus primeiros sinais na Conferência de Bandung, realizada na Indonésia em 1955. “Foi o momento em que é colocado em evidência para o mundo que existe pensamento crítico no Sul global, até então sem voz”, afirmou a professora. Ela reforçou que o Brics é o acúmulo de experiências históricas atravessadas por ditaduras, golpes de Estado, colonização e pelas guerras de libertação: “No século XXI, há uma tomada de consciência de que eles podem colocar na agenda global temas que antes não constavam lá e fazer as reivindicações necessárias para pensar um mundo diferente”.
Ao elogiar a hipótese da professora, Jorge Rubem Folena ressaltou que a ligação oferece clareza sobre a relação dos integrantes do grupo e torna possível compreender cenários atuais do multilateralismo. “Esses países foram todos colonizados e também mostram o fracasso da supremacia ocidental cristã. O que se passa em Gaza é consequência disso e daí advém a união do Brics em defesa da Palestina”, afirmou o mediador.
Da esq. para a dir., Elias Jabbour, Sérgio Sant'Anna e Carlos Eduardo Martins
Na última mesa do evento, os professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Elias Jabbour e do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (Irid) da UFRJ Carlos Eduardo Martins debateram As perspectivas do Brics no campo da contra-hegemonia no mundo multipolar. A mediação foi feita pelo membro do Conselho Superior do IAB Sérgio Sant’Anna. “Eles colocaram suas impressões sobre a participação brasileira no Brics a partir de um olhar crítico e bastante metodológico e também falaram sobre as possibilidades do Brasil com o grupo”, relatou Sant’Anna.