O livro reúne poemas escritos por estudantes do Ciep 225 Mário Quintana, que faz parte das Unidades Escolares Prisionais e Socioeducativas do Estado do Rio de Janeiro. No colégio de Campo Grande, os alunos são introduzidos à literatura como agentes produtores de arte. "É uma publicação de caráter muito particular envolvendo as experiências de detentos sobre suas vivências", avaliou Sydney Sanches. Na visão do organizador da obra, Siro Darlan, o local transforma a dor em poesia: "É um prazer estar ao lado dos excluídos para ser a voz e dar imagem àquilo que eles fazem apesar de tanto sofrimento aos quais são submetidos", disse o magistrado.
Da esq. para a dir., Dea Rita Matozinhos, Wander Lourenço, Marcia Dinis, Carlos Nejar, Sydney Sanches, Siro Darlan, Anita Alvarenga e Carlos Eduardo Machado
O lançamento, que foi conduzido pelo presidente nacional do IAB, Sydney Sanches, também teve participação da diretora do Colégio Estadual Mário Quintana, Anita Alvarenga, do 1º vice-presidente do Instituto, Carlos Eduardo Machado, da membro da Comissão de Direito Penal do IAB Dea Rita Matozinhos, do membro da Academia Brasileira de Letras Carlos Nejar e do escritor e compositor Wander Lourenço. A diretora de Biblioteca do Instituto, Marcia Dinis, que mediou o debate, definiu a publicação como uma denúncia forte e impressionante da realidade dos detentos. "É fundamental que pensemos nessas pessoas, porque nosso sistema carcerário foi elaborado para que elas sejam esquecidas", afirmou a advogada.
Segundo Anita Alvarenga, co-organizadora da obra, os alunos gostaram tanto de ver suas produções publicadas que já planejam um segundo volume. "Isso porque eles foram estimulados e reconhecidos como seres humanos", afirmou a diretora, que destacou a necessidade de garantir a dignidade da pessoa para que ela não volte à criminalidade. "Na escola eles tomam água filtrada, comem merenda e quando retornam ao presídio eles falam que estão voltando para o inferno e para a superlotação", contou. Para Anita, o ser humano é capaz de se transformar, mas é necessário oferecer oportunidades para tal: "Nosso objetivo não é resgatar, mas dar ao privado de liberdade a dignidade humana".
Carlos Eduardo Machado, que é advogado criminalista, destacou que o sistema prisional é permeado por injustiças e estigmatização sociais. “Há uma perseguição e desprezo por aquelas pessoas que ficam inteiramente excluídas e perseguidas. Elas são tratadas de forma desumana. A cadeia, que dizem que veio para humanizar a pena, hoje é uma prova terrível de como a sociedade está desumana, especialmente em um país como o Brasil”, afirmou. A liberdade que os detentos almejam é alcançada, na visão de Carlos Nejar, através das palavras. “Não há paredes que prendem o homem e não há lei que consiga prender o espírito humano. Ele derruba todas as paredes, porque o espírito do homem é liberdade e a casa do homem não tem janela”, completou.
A obra pode sair do papel e ganhar espaço nas telas através das lentes do diretor Wander Lourenço. “Já conversei com a diretora Anita e nós vamos fazer um documentário com esses autores. Vamos entrevistá-los e fazer um filme chamado ‘Onde o filho chora e a mãe não vê’, frase dita no presídio de Ilha Grande”, revelou. A ausência da família, segundo observado por Dea Rita Matozinhos, é um ponto de sofrimento em comum entre os presos, já que o termo é repetidamente citado nos poemas do livro. “Iniciativas como essa são raras, porque normalmente o preso sofre muito com a marca que é deixada como se ele fosse gado. Isso atrapalha a vida dele em tantos outros setores e dificulta inclusive a reabilitação”, disse a advogada.
Também participaram do evento o ator Alexander Sil e o cordelista Edmilson Santini, que fizeram leituras de poemas.