O lançamento contou com a presença dos organizadores da obra, o engenheiro civil e de segurança Sérgio Niskier e a analista judiciária na especialidade de psicóloga do TJRJ Danielle Goldrajch. O presidente da Comissão de Direitos Humanos do IAB, Carlos Schlesinger, a psicóloga Sonia Oliveira e o diretor ouvidor e Apoio aos Sócios do IAB, Paulo Maltz, também participaram do evento, que foi mediado pela diretora de Biblioteca do Instituto, Marcia Dinis. Ela destacou que o livro tem impacto direto na preservação da memória para a manutenção do Estado Democrático de Direito. “O perigo de que todos esses males voltem a prevalecer na nossa sociedade é iminente. Não só por governos de extrema direita, mas também por uma população hoje levada à negação da própria história”, disse Dinis.
Da esq. para a dir., Paulo Maltz, Sérgio Niskier, Carlos Schlesinger, Marcia Dinis, Talvane de Moraes e Sonia Oliveira
Nos laudos publicados as vidas dos sobreviventes são particularizadas desde o período anterior à Segunda Guerra Mundial. Oswald Moraes Andrade investigou nos pacientes as dores causadas ainda na perseguição nazista e ouviu os relatos dos campos de concentração e da chegada ao Brasil. “Além dos pareceres psiquiátricos, feitos entre 1963 e 1966, o livro também contém textos dos organizadores e de vários colaboradores”, contou Danielle Goldrajch. A organizadora da obra afirmou, ainda, que a obra tem o objetivo de ajudar na construção de um pensamento mais empático e solidário com a dor do outro: “Devemos estar atentos a discursos e ações discriminatórias, para combatê-las em sua origem e buscar todas as formas de compensar as injustiças já praticadas”.
Um dos pontos que mais chama atenção na situação, segundo Sérgio Niskier, é o fato de que tudo começou em um dos países mais desenvolvidos do mundo. “Lá, onde a população era bem educada, foi eleito democraticamente um fascista. O horror nazista não começou com os campos de concetração, ele terminou com eles. Os sinais foram todos dados desde o começo e a população embarcou”, afirmou. As cicatrizes desse passado estão em todo mundo. Carlos Schlesinger relatou que toda família judaica conhecida por ele, que também faz parte da comunidade, sofreu a perda de um ente durante a guerra. “Fomos expostos a esses depoimentos desde a mais tenra idade. Como forma de tortura? Não, como forma de não esquecimento, porque o povo que esquece sua memória tende a repeti-la”, disse o advogado.
Outro ponto destacado pelos participantes foi a importância de desfazer o mito de que os judeus foram passivos ao massacre. Para Paulo Maltz, não basta lembrar das rebeliões do período, é preciso entender que a principal luta foi outra: “A sobrevivência é a maior resistência. A todos aqueles que sobreviveram, que reagiram resistindo, a esses o livro Dores reveladas”. Um passado doloroso que se aproxima da história judaica, segundo Sonia Oliveira, é a realidade da escravização dos povos africanos. “Tanto o Holocausto quanto a escravidão, as torturas políticas da ditadura e a violência contra os povos originários, dentre outras brutalidades, não devem ser esquecidas para que essas tragédias humanas não se repitam”, completou a psicóloga.