Ao agradecer a homenagem, o jurista centenário disse: “Meus prezados amigos, não me é possível, pela longa vida, ler o discurso que escrevi em agradecimento a vocês; por isso, falará por mim a minha filha Karine Barros Coelho”. A advogada assumiu a tribuna do auditório da OAB/PI e leu: “No seminário em que estudei por sete anos, aprendi a importância das palavras, o que me levou à dedicação ao magistério, que exerci em vários estabelecimentos em Teresina”. Dando voz ao pai, Karine disse: “Me tornei advogado, passei em oito concursos públicos e hoje, ao completar cem anos, lembro das palavras do filósofo inglês Bertrand Russel, que ao falar da velhice nos dá sábias lições de vida”.
A filha continuou: “Indica ele que uma existência humana individual deveria ser como um rio pequeno, estreitamente contido dentro das suas margens, a correr impetuosamente sobre seixos e cascatas, tornando-se, aos poucos, mais largo, quando as margens recuam, as águas fluem tranquilamente e, no fim, sem qualquer interrupção visível, funde-se ao mar”. Para Celso Barros Coelho, “o homem que, na velhice, pode encarar a sua vida essa maneira, não sofrerá o medo da morte”.
Álvaro Fernando Mota também foi à tribuna: “O êxito pessoal deste homem centenário, sua longa e bem-sucedida carreira jurídica e sua força na luta contra as injustiças foram construídos e forjados pela determinação e a coragem, que são virtudes que o acompanham desde sempre”. Segundo ele, o jurista “sempre manteve uma postura proativa em favor da cidadania, o que o levou a ser deputado estadual e deputado federal pelo Piauí”. Dentre os que ocuparam a mesa de honra estavam o neto do homenageado e presidente da OAB/PI, Celso Barros Coelho Neto, e o presidente da APL, Zózimo Tavares Mendes.
Trajetória – Nascido no dia 11 de maio de 1922, na cidade de Pastos Bons, no Maranhão, o menino Celso Barros Coelho foi alfabetizado por uma tia. Aos 16 anos, mudou-se para a capital do Piauí e tornou-se seminarista, ao estudar por sete anos no Seminário Menor de Teresina. Aprendeu latim, grego, francês, italiano e espanhol. Graduou-se em Direito na Universidade Federal do Piauí (UFPI), aos 30 anos de idade.
Foi juiz, promotor, auditor e procurador federal, cargo no qual se aposentou. Lecionou na UFPI, em cuja cátedra de Direito Civil permaneceu até os 70 anos. Também foi professor convidado de Direito Civil da Universidade Nacional de Brasília (UNB), deputado estadual com mandato cassado pela ditadura militar, deputado federal por dois mandatos e presidente da OAB/PI por cinco mandatos consecutivos (1963 a 1974).
Dentre os muitos livros publicados pelo jurista estão Da poesia latina na época de Augusto, O Estado e os direitos do homem, O Estado brasileiro – do conteúdo político ao social, Diretrizes para uma ação política, Imunidades parlamentares, O direito como razão histórica, Universidade em causa e Tempo e memória: Pastos Bons.