Soraia Arnoni interpretando Esperança Garcia
Na solenidade, Soraia apresentou um esquete teatral baseado na peça Caminhos de Esperança, em que ela faz uma leitura dramatizada da luta da piauiense. A atriz apresentou a história de Esperança para os consócios e convidados, ressaltando a força e a coragem da advogada. Ela sublinhou que a carta direcionada ao governador do Piauí, em setembro de 1770, é o mais antigo documento de reivindicação de uma pessoa escravizada a uma autoridade: “Nessa época, saber ler e escrever era incomum entre a elite e eu ousei fazer da escrita minha ferramenta de luta pela justiça”.
Da esq. para dir., Leila Pose, Deo Garcez, Esperança Garcia, Jorge Rubem Folena, Sydney Limeira Sanches e Edmée da Conceição Cardoso
Após ser empossada, Esperança Garcia fez seu primeiro discurso na qualidade de consócia do Instituto. Sua fala foi marcada pela ressalva de que ela não deve ser lembrada apenas por ter sido escravizada: “Sou cozinheira, esposa, mulher, negra, mãe e um ser humano. Quando contarem a minha história, lembrem disso”. A advogada também destacou que sua história ainda se repete, mesmo com o fim da escravidão no Brasil. “A fé que carregamos continua sendo desrespeitada, as famílias pobres e negras ainda são desmanteladas pela violência do Estado e as mulheres ainda são submetidas a todo tipo de abuso”, afirmou.
A autora da indicação que permitiu a posse simbólica foi a diretora Cultural do IAB, Leila Pose. Dando as boas-vindas à nova consócia, ela mencionou que Esperança vem sendo constantemente homenageada no IAB – a advogada dá o nome a uma comenda da entidade e tem um retrato fixado na parede do plenário. “A carta escrita por ela atende aos elementos jurídicos essenciais de uma petição: endereçamento, identificação, narrativa dos fatos, fundamento no Direito e pedido. Em termos materiais, Esperança teve atuação singular porque atuou como membro da comunidade política que a escravizava”, lembrou Leila.
O presidente nacional do IAB, Sydney Limeira Sanches, que conduziu a cerimônia, elogiou o brilhantismo de Soraia Arnoni. “Ela permitiu que nós fizéssemos um registro de uma passagem histórica de reparação na Casa de Montezuma. Sem a potência de Soraia não estaríamos neste momento tão especial, que será lembrado daqui a 180 anos”, enfatizou. A atriz também recebeu o Conjunto de Medalhas Esperança Garcia por sua trajetória artística antirracista e por ter criado e roterizado a peça que trata da piauiense.
Soraia também foi elogiada pelo ator Deo Garcez, intérprete de Luiz Gama no teatro, que dirigiu o esquete e é também diretor da peça Caminhos de Esperança. O ator deu vida ao advogado abolicionista e, em junho deste ano, tomou posse simbolicamente no IAB. Em sua fala, ele também saudou Benedita da Silva e Yedo Ferreira, homenageados durante a solenidade. “Hoje, estamos fazendo uma reparação histórica, mas ela se deve também à luta diária e cotidiana desses dois militantes”, afirmou ele.
Da esq. para dir., Hetilene Tostes, Sérgio Tostes, Deo Garcez, Carlos Eduardo Machado, Esperança Garcia, Leila Pose, Sydney Limeira Sanches, Edmée da Conceião Cardoso e Humberto Adami
Reconhecimento – O trabalho de Leila Pose à frente da Diretoria Cultural e da Escola Superior do Instituto (ESIAB) também foi celebrado durante a cerimônia. Criadora do selo IAB Cultura e condutora de importantes eventos da entidade, ela recebeu, de surpresa, o Conjunto de Medalhas Esperança Garcia. A comenda é destinada a mulheres que atuam na defesa dos direitos humanos e lutam pela equidade de gênero e raça. Esperança, interpretada por Soraia, fez a entrega da homenagem.
Leila Bittencourt
Proponente da homenagem à Leila Pose, Leila Bittencourt, que integra o Conselho Superior, fez uma reverência especial à diretora, destacando seu empenho e dedicação ao Instituto. “Ela alavancou a nossa atividade cultural e precisamos reconhecer seus esforços. Leila possibilitou e contribuiu para que o IAB, que era conhecido por um número restrito de juristas e por uma elite, tivesse mais pluralidade e fosse difundido nas redes sociais”, comentou.
Sérgio Tostes
Leila Pose também foi saudada pelo orador oficial do IAB, Sérgio Tostes, que definiu a advogada como uma profissional admirável e extremamente dedicada à vida associativa. “Poucas vezes este Instituto viu se desenrolar a história do Brasil no seio das suas atividades. Tivemos aqui o passado que nos inspira e o presente que nos fortalece”, disse ele.
O discurso da homenageada deu destaque à gratidão pelo reconhecimento de seu empenho. “Eu adoro este Instituto e tudo o que faço é com muito carinho. Renovo meu compromisso com o IAB através do recebimento desta honraria, que irá me manter firme aos propósitos, finalidades e trabalhos desta Casa”, declarou a advogada, que foi indicada ao IAB pelo 1º vice-presidente da entidade, Carlos Eduardo Machado.
Deo Garcez
A solenidade especial contou ainda com a homenagem ao presidente da Comissão de Igualdade Racial, Humberto Adami, e à integrante do mesmo grupo Alessandra Santos. Para eles foi entregue, por Deo Garcez, uma declaração de reconhecimento ao trabalho realizado em prol da reparação da escravidão. “Eles estão sempre a serviço da cultura, do teatro e da luta antirracista. É muito importante que recuperemos a verdadeira história brasileira que foi apagada intencionalmente, invisibilizando heróis como Luiz Gama e Esperança Garcia”, afirmou o ator.
Também estiveram na solenidade Carlos Eduardo Machado, o secretário-geral, Jorge Rubem Folena, a diretora secretária de Diversidade e Representação Racial, Edmée da Conceição Cardoso, o diretor Ouvidor e Apoio aos Sócios, Paulo Maltz, a diretora de Publicações, Kátia Tavares, o ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) e desembargador aposentado Marcus Antônio de Souza Faver, o diretor de Relações Institucionais da Firjan, Márcio de Almeida, o consócio Edmundo Franca, entre outros.